| "Simon Wiesenthal frequentemente diz que o seu maior problema é o de encontrar testemunhas verazes, capazes de citar com segurança datas e lugares. Para ele próprio, as dificuldades começaram antes mesmo de ter ouvido falar em nazistas e em campos de concentração. Nasceu a 31 de dezembro d 1908, 'cerca de meia hora antes do fim do ano', conforme a mãe lhe declarou. A parteira, cumprindo sua obrigação, comunicou o nascimento ao registro civil da cidade de Buczacz, na parte mais oriental do Império Austro-Húngaro. Na época própria, ele recebeu sua certidão de nascimento, passaporte e muitos outros documentos de que as pessoas necessitam, nesta parte do mundo, para provar que existem. Quando fez 18 anos, em 1926, a Galícia se tinha tornado parte da Polônia, que reconquistara a independência. E Wiesenthal teve que se apresentar as autoridades polonesas do recrutamento militar, só não tendo sido então incorporado ao Exército porque, como universitário, obtivera o usual adiamento.
No ano seguinte, porém, dois policiais o prenderam, por tentar escapar ao serviço militar. Wiesenthal lhes disse que cometiam um engano, pois já se havia registrado e obtivera o adiamento de sua incorporação. Os policiais afirmaram que não havia engano algum, pois tinham provas de que ele nascera em 1 de janeiro de 1909. Ele não se tinha registrado no ano de 1927 e, por isso, estava sujeito a imediata incorporação. Wiesenthal descobrira que o pai de sua mãe havia também registrado o seu nascimento, não a 31 de dezembro de 1908, mas na data alegada pelos policiais. O avô achara que uma hora não fazia nenhuma diferença e queria que o neto fosse a primeira criança a figurar nos livros de 1909, acreditando que isso lhe traria sorte. Entretanto criara apenas dificuldades para Wiesenthal, que foi avisado pelas autoridades polonesas de que seus documentos provavelmente seriam anulados, a menos que provasse, como alegava, que de fato nascera a 31 de dezembro de 1908. Um juiz polonês lhe disse que teria que apresentar duas testemunhas que afirmassem, sob juramento, que essa era a data certa."
"O Caçador de Nazistas", em colaboração com Joseph Wechsberg - Edições Bloch - 1967 - Página 27. |