|
SATO, um artista autodidata, filho da 'terra vermelha', norte do Paraná, sempre trilhou seus caminhos entre a indagação, elaboração e os desafios que a vida artística impõe ao artista. Talentoso, aos treze anos de idade inicia desenhando com pincéis orientais, aventurando-se também em entalhar madeiras com inscrições simbólicas, onde a fauna e a flora que sempre acompanharam a sua vida estão presentes no seu trabalho. Grande parte da sua infância, vivida nas fazendas de café e de gado leiteiro dos seus avós em Londrina, certamente influiu na sua vida artística. Quando iniciou o seu curso de Engenharia em Lins-SP, teve a certeza de que os traços ortogonais e os rígidos cálculos trigonométricos não eram o seu caminho, pois a sua liberdade criativa e a descoberta do mundo pela arte pareciam estar sendo ofuscadas pela Engenharia. Não teve dúvida, após três anos, abandonou o curso e, desde então, tem se dedicado às artes visuais. Seja elaborando desenhos a tinta nanquim, entalhando ou pirografando em madeira, trabalhando com largos pincéis sobre as telas gigantes ou produzindo esculturas iluminadas em metal ou madeira, a tridimensionalidade se firmou como uma forte tendência ante seus olhos e pensamentos desafiadores. Passa a produzir obras escultóricas públicas, como a que realizou por ocasião do cinquentenário da Sociedade Rural do Paraná, sediada em Londrina. Na subjetividade da sua arte, o texto e o contexto interagem com uma exuberância surpreendente, porém charmosa e discreta, onde o ponto e o contraponto se superpõem.
A fotografia sempre foi também uma de suas múltiplas paixões. Quando abandonou o curso de Engenharia estava em contato com o pintor japonês Kumassaka, mestre de Manabu Mabe. Frequentando e convivendo com Kumassaka, a sua certeza em trilhar o caminho artístico se firmou de forma irreversível.
Vivendo durante muito tempo na fazenda de seu avô ou à beira-mar em Florianópolis, costumava ser visto andando de bike por essas cidades. Este 'menino mestiço', 'garoto prodígio', ou o 'homem criança', cheio de vida, distribuindo energia ou criando cadeiras com sucatas de alumínio fundido ou sucatas de ferro, recentemente teve um encontro com Tomie Ohtake em um almoço na sua residência. Da Tomie, recebeu estímulos para “... trilhar sem medo e com muita determinação o seu caminho pela arte da vida, dedicando-se integralmente e com zelo às várias oportunidades e fronteiras desconhecidas que ainda surgirão em sua vida.
Atualmente, vivendo em São Paulo, tem trabalhado intensamente de forma disciplinada e ousada todos os dias, onde seus horizontes se fixaram nos múltiplos caminhos da arte. Já expôs em vários espaços públicos e privados, não somente em Londrina como em outros espaços alternativos, públicos ou privados do país. O seu dia-a-dia na metrópole paulista é muito agitado, entre tintas, pincéis, fotografias experimentais, esculturas ainda em elaboração, ferros retorcidos aguardando acabamento ou mesas de madeira de grandes dimensões entalhadas e espalhadas pelo seu ateliê. Sato já experimentou muitos caminhos abertos pela arte, desafiando gravidades em algumas esculturas, como as realizadas em decorações de Natal, elaborando de forma original figuras suspensas e iluminadas, muito desafiadoras e admiradas por todos. Sato já trabalhou com cascas de madeira, fibras de rami, cordas e sisal, criando cenários inspirados na floresta amazônica,e animais coloridos tridimensionais que compuseram alguns de seus trabalhos realizados no carnaval. Uma de suas expressões: '... a arte tem que fazer parte do dia a dia...' ' ...pois sem o mergulho do homem na arte, como também a arte desafiando o cotidiano como um importante caminho do ser' , '...a vida fica sem sentido e sem cor'. O filósofo Kant, afirmava que o 'juízo do gosto' sempre 'precedia o prazer' obtido a partir do 'objeto' estético.
Minimalismo, figurativismo tropical, gestos orientais ou fora dos 'ismos', Sato, 'fruto da terra vermelha' londrinense já firmou a sua marca na delirante e desvairada metrópole paulista. Olney Kruse, fotógrafo, jornalista e crítico de arte que atuou no Jornal da Tarde de São Paulo, escreveu uma crítica sobre o seu trabalho, quando Sato tinha 21 anos e expôs na inauguração do 'Spazio Pirandello' em São Paulo, profetizou: “Sato pode-se tornar um excelente ilustrador, como também ter êxito na publicidade”. Realmente, Sato fez diversos trabalhos para publicitários como também ilustrou painéis, cartazes, folders, etc., ampliando a sua multiplicidade de experimentos e trabalhos artísticos.
Esse profissional autodidata, de prodigiosa arte, sempre aceitou desafios como artista visual, como designer, como fotógrafo, como escultor, realizando com habilidade a sua diversidade artística. Os desafios ou dificuldades da técnica nunca foram obstáculos para Sato que, com alegre e despretensiosa ironia provoca o espectador com surpresas cada vez mais distintas e ousadas. Nas expressões de Sato '... a arte é uma coisa louca... quando você se envolve, lapida sua alma... uma situação atemporal... o trabalho me realiza como um ser...'.
Como observou um dos maiores intelectuais brasileiros, o poeta e literata Haroldo de Campos, '... entender a arte entre o horizonte do provável...', pode ilustrar a arte desse artista brasileiro de raiz japonesa, mas de expressão bem brasileira, na sua antropo-arquitetura artística.
Yoshiya Nakagawara Ferreira |