| Disputando as eleições presidenciais com Eurico Gaspar Dutra, em 1945, estava o brigadeiro Eduardo Gomes (1896-1981).
Gomes era daqueles candidatos de boa estampa e carreira política meteórica que, vira e mexe, aparecem no cenário eleitoral brasileiro prometendo uma faxina completa na política do país – ou, como alguns, promovendo a caça aos marajás do serviço público.
Tinha adesão da parcela da sociedade mais à direita, e sua campanha saía das ruas e ganhava espaço em clubes militares e encontros com ligas de mulheres pela família, pela religião e pelos bons costumes.
Foram elas, as mulheres, que cunharam o slogan que marcaria sua campanha: 'Vote no brigadeiro, que ele é bonito e é solteiro.'
Era o contraponto perfeito ao general Dutra, cuja base de convencimento estava no orgulho de ser marmiteiro. Eduardo Gomes era quase o reverso dessa imagem. Com excelente formação, bonitão, alto e charmoso, representava a elite, os intelectuais e os demais descontentes do governo Vargas.
Mereceu, inclusive, versos de Manuel Bandeira em sua homenagem, em Lira do Brigadeiro:
Pois não mata,
Pois não furta,
Pois não mente,
Não engana, nem intriga
Tem preceito, tem ensino:
Foi assim desde tenente
Foi assim desde menino!
Se a eleição presidencial de 1945, disputada democrática e diretamente depois de 15 anos da ditadura imposta pelo Estado Novo de Getúlio Vargas, não fosse importante o suficiente para deixar marcas políticas nas gerações que se seguiram, haveria de ser, para sempre, guardada na memória afetiva do povo brasileiro por um motivo bem mais trivial e saboroso. Afinal, ao que se sabe, Eduardo Gomes foi quem inspirou uma das maiores delícias da culinária nacional: o brigadeiro! Sim, esse docinho que as crianças de todas as idades adoram!
A prosaica homenagem surgiu nas reuniões dos comitês de campanha, quando as senhoras apoiadoras da candidatura de Gomes faziam o doce misturando leite condensado e chocolate em pó para angariar fundos para a batalha eleitoral. Os ingredientes haviam se tornado ainda mais populares após a instalação da primeira fábrica da Nestlé no país, em 1923, e, principalmente, após a guerra, quando tanto um quanto o outro – o leite condensado e o chocolate – eram distribuídos para alimentação dos soldados.
Os doces eram passados aos cabos eleitorais, junto de bandeiras, santinhos e material de campanha. O brigadeiro era fofinho, bonitinho, redondinho… Igual o candidato Eduardo Gomes. Mas o mutirão das madames e o gosto bom do brigadeirinho não adiantaram muita coisa…
(Para marcar a data nacional do doce que mais representa os brasileiros, a homenagem é feita em 10 de setembro, suposto dia em que ele foi apresentado ao político)
Infelizmente, Gomes não presenciou a restauração completa dos direitos individuais dos brasileiros. Ele morreu em junho de 1981, aos 84 anos.
.....
FONTE: "Anos 40: Quando o mundo, enfim, descobriu o Brasil" - por Ricardo Amaral - Rio de Janeiro: Rara Cultural, 2017
Pesquisa: Luiza Voigt
|