| "Por volta das 3h30 da madrugada de quarta-feira, 28 de março, vândalos atearam fogo à porta de quatro apartamentos de alunos africanos na Casa do Estudante Universitário (CEU) da Universidade de Brasília (UnB). Os moradores da CEU acordaram assustados e sufocados pela fumaça que tomou conta de todo o prédio.
Assustada, a formanda em Ciências Sociais da UnB Mbalia Queta, 28 anos, conta que ela e três colegas de quarto foram socorridas por outros estudantes, já que não conseguiam abrir a porta em chamas. 'Viemos para o Brasil para estudar, não para morrer. Se não tivéssemos ajuda, tudo poderia ser pior porque tinha um botijão de gás ao lado da porta', lamenta Mbalia. 'Ficamos traumatizados com a situação. Não temos mais tranqüilidade para andar por aqui', reclama a recém-formada em Letras-Inglês pela UnB Racky Sy, 30 anos, também moradora da CEU. Formando em Ciências Sociais da UnB, Lenine da Silva, 24 anos, não conteve as lágrimas. Indignado com o atentado, o estudante afirma esperar da UnB as providências necessárias para garantir a segurança dentro do campus. 'Isso é xenofobia. Alguém poderia ter morrido. A situação ficou muito séria porque passou da fase de ameaças e de bate-boca', lamenta Silva. A universidade tomou providências imediatas: reforçou a segurança na CEU; lacrou os locais de incêndio para que a perícia fosse feita; acionou as polícias Federal e Civil e garantiu nova moradia e segurança para os estudantes atingidos.
O decano de Assuntos Comunitários da UnB, Reynaldo Tarelho, descarta a possibilidade de crime racial, mas afirma que aguardará até a conclusão dos inquéritos policiais. 'Como professor universitário, não posso acreditar que esse seja o motivo', destaca o decano. Ele ressalta que a maior importância, nesse caso, é garantir a segurança dos estudantes e impedir que atos como esse aconteçam novamente. 'Caso seja comprovado que foi alguém de dentro da universidade, haverá processo disciplinar que pode resultar em expulsão dos culpados', destaca Tarelho. Os estudantes atingidos serão transferidos para alojamentos da UnB localizados na Colina. O procurador-geral da UnB, José Weber Holanda Alves, afirma que o incidente será apurado tanto na instância penal como nas civil e administrativa. Na primeira, a ação pode ser considerada como tentativa de homicídio ou terrorismo. 'Identificados os autores, eles também terão de pagar pelo prejuízo ao patrimônio público e, se forem estudantes da universidade, passarão por processo disciplinar e poderão ser expulsos da instituição', reforça Alves. Para o reitor da UnB, Timothy Mulholland, há claros indícios de que essa foi uma ação criminosa. 'Além da investigação criminal, que corre fora da UnB, a própria universidade fará uma sindicância para apurar os culpados e as causas', afirma o reitor."
UnB Agência |